segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Paixões, Histórias, Tempo

Uma compilação de acasos interessantes que decidiram fazer um traço nos borrões da vida ( Ou algo parecido. Desculpem, não tenho talento para chamar a atenção de pessoas com só uma frase).




Histórias reais, sim. Começando pela de hoje ( Na verdade, ontem. São 2 da manhã. Enfim... ).


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* São Cristóvão - Estação de trem *

 "Faltam 15 minutos pra aula, droga! Bom, estou atrasado. Economia Política II...  Foda-se, California Cofee ."


  Foi então que nosso querido protagonista decidiu aventurar-se pelas sinuosas ruelas do bairro da Tijuca em busca do mítico Swiss Moka Latte. Dispondo apenas de celular, fone de ouvido e livros, Victor decidiu tomar o caminho habitual nos dias de ócio para o Shopping Tijuca. Mal sabia ele que, em uma esquina como qualquer outra, lhe aguardavam doces harpias de voz enfeitiçante que amoleceriam coração do mais bruto dos Homens - em outras palavras, menininhas de 13 anos com voz fofa.


   -  Moço...
   * Tira o fone de ouvido * - Ah, oi! Sim?
   - Eu e minha irmã estamos fazendo um Bazar pra comprar ingressos pro show do Justin Bieber, você pode ajudar a gente?


   A irmã mais nova dela, uma negociadora nata, veio com um olhar fulminante e arrebatou o que me restava de humanidade e auto-controle.


- Quer comprar essa girafinha?
- Ah, claaaro ! Quanto custa?
- Seis reais.


   Reviro meus bolsos, descubro que não tenho o suficiente para Café + Girafa. Dilema.


   - Ehm... não tem nada mais barato?


   Rapidamente, me mostraram uma série de capas de celular. Havia uma de sapo.


   - Aquela ali.
   - São dois reais.
   - Ok. Obrigado. Boa venda, meninas!




   A alegria das jovens capitalistas me deixou com um sorriso bobo inevitavelmente estampado no rosto. Continuei andando. Na esquina, meu dilema se aprofundou. Porque não é todo dia que se vê crianças tão enérgicas e alegres. Porque não é todo dia que se tem uma chance de proporcionar boas aventuras para o que um dia será o futuro da nação. Porque não é todo dia que se recebe uma oportunidade de investir diretamente nos sonhos de uma inocente criança. Mas, principalmente, porque a girafa realmente era fofa.


   Revirei meu bolso, encontrei uma nota de cinco reais, voltei e troquei o sapo pela girafa. Elas ficaram felizes, e já sabiam calcular troco, que espertas! Saí satisfeito e com uma girafa na mochila, pensando nos momentos subjetivos da vida e etc.


   Não, eu não me atrasei para a aula. Não teve aula ( um viva para faculdades públicas! ) a noite inteira. Decidi ficar lendo. Li. Cansei. Decidi divagar. Encontrei vários colegas e amigos que também achavam que teria aula. Conversei. E, principalmente, entreguei a girafa para uma colega de turma que me contou histórias de vida como quem conta para um psicólogo, já na primeira vez que ficamos sozinhos ( I'm starting to see a pattern... ). Eu adoro esta espécie de sinceridade. Estes atos ( quase ) aleatórios que posso fazer vez em quando me deixam bem feliz. Até porque, se não me falha a memória, foi assim que todas as minhas boas amizades começaram. Pílulas, Bombons, Guaraná Kuat, Bala Halls, Girafas. Um ato aleatório de bondade, anos de boa convivência. Quem sabe o que o futuro nos reserva?


   - Ah, que bonitinha! O nome dela será... Florentina. E ela está cheirando a café. Obrigada, Victor!












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   Sim, é saudosismo, mas sinto falta dos tempos em que tirava dos meus versos todo dia poesia. Daquela época que antes eu via como infeliz, agora vejo como única e nostálgica, e das três poesias que nunca mais verei. Carinhosamente, apelidei-as de " Três Liras".


   - Por que aquela moça está aqui?
   - Pelo mesmo motivo que você.


   Eu tinha apenas 15 anos, mas simpatizei. Aquela moça com quem troquei apenas três palavras e um olhar melancólico. Ela sentia o mesmo. E eu não podia fazer nada.


   Em um momento de desespero e identificação, puxei meu sempre fiel caderno e peguei emprestada uma caneta. Cinco minutos eu tinha, não mais. Eu nunca mais veria ela. Escrevi. Pedi para o irmão/marido dela entregar, não lembro se assinei. Espero que tenha adiantado para alguma coisa, qualquer coisa. Inocência de criança.


   A segunda não está perdida: está muito bem localizada. Em Belo Horizonte, com uma amiga de tempos. A primeira a me confortar nas horas frígidas. Extremamente irônico que tenhamos nos conhecido interpretando papéis no Teatro. Nada mais sugestivo para o momento.


   Guardo as palavras de conforto dela, espero que ela guarde as minhas. Mesmo que o papel desmanche, é só papel; enquanto houver uma só palavra memorizada, entendida ou internalizada, a poesia serviu seu propósito.


   A terceira foi a que eu mais tive certeza de que realmente fez a diferença, mesmo que por um segundo. Vou me demorar um pouco mais nesta.


   Ideia mais inóspita, um ateliê em um sanatório. Pessoas com Esquizofrenia, Bipolaridade e Autismo, mas que não desviavam os olhos de suas telas por um segundo sequer. O único som que se houve é o de pincéis tocando papel. Incrivelmente, julgo que pessoas normais teriam muito mais dificuldade para criar tamanhas... obras de arte. Pinturas de mulheres, paisagens, símbolos: nenhum sinal aparente de sua origem obscura. Decido me juntar a eles por um segundo, mesmo me sentindo deslocado. Escrevo, escrevo, escrevo. Até um deles, um visitante, ex-paciente, se manifestar.


   Minha mãe, conversando com a diretora do ateliê, pergunta:


   - O que ele tem?


   O mundo não teve escrúpulos com ele. Homossexual, Bipolar, Esquizofrênico, Abandonado pelo pai na infância. Mesmo assim, as capas que desenhava e os caderninhos que vendia eram absolutamente sublimes. Tão belos e femininos quanto o que vi escondido no fundo dos olhos dele.


   Normal à primeira vista, exceto pela angústia. Nunca havia visto tanta antes, nem em meus sonhos mais perversos. Minha primeira musa masculina. Naturalmente, palavras jorraram com emoção no papel. Este, eu fazia com gosto, com todo o amor que haviam negado a ele. " Alma feminina... Graça felina... " rimas perfeitas. Uma verdadeira obra-prima. Li, reli, orgulho. Arranquei a página sem dó. Mas estava com medo, pedi para a diretora entregar. Esperei uma reação...


   Um sorriso. Um sorriso verdadeiro, de quem eu acreditava não poder sorrir. A mais gritante prova  de que pode, sim, haver felicidade, mesmo na hora mais escura. Ele saiu, sorridente, com o rosto corado. Me disseram que a felicidade dele era tão volátil quanto sua anterior cólera. Mas eu trouxe um segundo de paz para um oceano de tormentas, não pude deixar de ficar feliz também


   Antigamente, chamava-os de " Três poemas perdidos ". Mas então percebi... estariam mais perdidas as palavras repassadas e cativadas que se desmancham em segundos, ou as palavras concretas que eternamente apodrecerão em um caderno?




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E... espero ter alegrado o dia de vocês. Se não tiver conseguido... bom, não custa nada tentar, não é? =]

Um comentário:

  1. Eu li e... bem... você já sabe como eu me sinto quanto aos seus textos poéticos xD Não tenho muito mais o que dizer xD

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