" À primeira vista, uma gota de orvalho se mostra verde. Ela reflete seu lar, sua origem, se mostra obscura. Mas os traiçoeiros ventos da mudança carregam-na para o limite do ser, torna-se questão de tempo sua separação. E apenas no sublime momento entre seu desprendimento e sua comunhão com um indinstinto oceano pode-se ver plenamente sua transparência. "
O caderno do poeta agora é inútil. A rima, em verdade, nunca foi empírica, não obstante alimentar a idealização de um sonho que, futuramente, se tornaria vazio. Mas eram belíssimas. Bons tempos aqueles em que belas e boas palavras eram suficientes para acalmar as ânsias da alma. Bons tempos.
Não que não haja com quem discorrer sobre a beleza subjetiva, muito pelo contrário. O Escultor adora este assunto. Mas é difícil argumentar contra alguém tão conservador. As marionetes de barro ( muito realistas, por sinal) cumprem bem seu papel de entreter, mas ele parece ter se esquecido delas . Mesmo suas criações mais perfeitas são guardadas em sua estante e esquecidas por ele, inevitavelmente caindo em desuso e apodrecendo aos poucos. Sua mente me parecia sempre estar focada no futuro, em acertar da próxima vez. Quando se lembra delas, apenas retira a fina camada de poeira em suas superfícies, como se faz com um item de colecionador. Não sinto falta dele, mas uma visita ocasional seria bem oportuna.
Mas não percamos o foco: a beleza intrínseca na poesia e nas pessoas que, como uma súcuba sob um véu ao alcance da mão, te devorará assim que descoberta. Um sonho, mas algo pelo que vale a pena morrer. Se descobrires o que há por baixo do véu e sua razão obrigá-lo a não violar estes limites, serás alguém próspero e racional, mas jamais feliz. Por outro lado, ao ser devorado, será eternamente abençoado pela alegre ignorância. Não há meio termo.
A roda da fortuna não pára, e precisamos sempre prever a próxima sombra da caverna. A maturidade não lhe dá escolhas: ela te reforma. Seus valores se tornam idéias e suas convicções, dúvidas. Meu dilema não é aceitar sua chegada; busco apenas entender suas razões.
E o caderno sempre retratará isso. A progressão regressiva. O ofuscamento da visão. Os ideais perdidos e o coração transformado em víscera. Temos o direito de sonhar, mas nossas asas são cortadas. Em breve, meu cérebro se realocará para o baixo-ventre e minha visão para o presente, inevitavelmente.
E este será o momento em que a gota se unirá ao mar.
Fez sentido pra vocês? Pra mim fez.
Ah, prometo postar mais textos no blog a partir de hoje. Estou ficando com saudades de escrever!
Caso você não tenha entendido o recado ou não esteja com saco pra ler, uma música para alegrar seu dia:
que lindo, vitor!
ResponderExcluirHaha, valeu Ísis =]
ResponderExcluirP.S. - MEU DEUS, REALMENTE HÁ ALGUÉM LENDO O QUE EU ESCREVO ALÉM DA CAROL!!!!!
OMG, só pq eu deixei de comentar!xD :S Mas "antes tarde do que nunca"...
ResponderExcluir"Bons tempos aqueles em que belas e boas palavras eram suficientes para acalmar as ânsias da alma. Bons tempos."
Eu já falei que é linda a maneira como vc escreve? Pois é!
Todo o texto é maravilhoso, querido.
:)
Beijo:*