Já venho pensando em escrever um conto faz um tempo, mas sempre acabava me vendo sem tempo, ou então, tudo acabava em poesia. Mas eu já tive umas três idéias só esta semana, então, acho que chegou a hora. Espero que gostem. O título pode mudar posterioremente, mas por enquanto vai ser esse mesmo =/
Death's Lover
" Era bela. Nunca fui apaixonado por ela, e sempre soube disso. Mas não podia negar que era bela. Talvez bela demais para ser tocada. À primeira vista, quando ainda era uma criança, não pude fazer nada além de olhar dentro de seus olhos. Não pude deixar de notar sua pele branca como a neve, seus olhos azuis como o oceano, suas vestes negras como corvos, seus cabelos loiros como o sol e sua foice reluzente como a lua. Estava parada lá, ao lado do carro. Me chamou para entrar, junto com meus pais e minha irmã, mas algo me dizia que não seria uma boa idéia. Pelo menos não agora.
Ela era a única que conseguia me consolar depois do acidente. Nunca gostei da idéia de ter que morar com meus avós, mas não havia outra opção. Na adolescência, sempre que eu estava sozinho, ela aparecia para uma conversa silenciosa, para reafirmar as minhas certezas. Mesmo sem nunca dizer uma só palavra e nunca me tocar, ela me confortava. Sentia como se fosse a única que poderia entender a mim, e eu a ela.
Apesar de me sentir mal à princípio, acho que a melhor decisão que já tomei foi no momento em que troquei os incandescentes olhos azuis por um par de negros olhos castanhos. Inexplicavelmente, o brilho da escuridão era muito maior. Me senti feliz como nunca havia me sentido antes, um sentimento único, achava que finalmente havia me apaixonado.
Ah, a inocência das almas jovens. Já um homem-feito, com uma vida estável e sem vê-la há muito, eu me sentia verdadeiramente feliz. Os olhos castanhos eram muito mais acolhedores e quentes, na mesma proporção em que eram misteriosos e incertos. Improviso, Imprevisível. Até os olhos castanhos encontrarem outros olhos castanhos, para um breve brilho obscuro antes de voltar à certeza. Eu não queria estar lá, achei que estava vivendo uma mentira, sou Humano! Fingi que não me importei quando vi novamente seus olhos azuis, seguindo-a sem notar suas e minhas lágrimas.As duas deram as mãos. Eu não fiz absolutamente nada.
Nunca mais eu vi a mesma profundidade no oceano. Estávamos mais distantes que nunca, não conseguia me conformar. O oceano devorou a escuridão, e toda a fé que eu depositava nela. Guardei as caixas de remédio vazias e a carta a mim endereçada. Li inúmeras vezes a mensagem nela contida. Meus melhores amigos nunca mais se abrirão para ver a luz do dia...
Em um momento de revolta, peguei meu carro e fui dirigindo sem destino na noite, olhando para o céu que, assim como eu, chorava. Ela estava ao meu lado, mais próxima que nunca. Ciumenta. Percebi em sua total indiferença a dor que eu já havia sentido, a dor de ser esquecido. E só então me acalmei. Comecei a pensar, o que sempre é perigoso. Ainda estava dirigindo, mas sem o mesmo ódio de antes. Entendimento, talvez. Completa falta de esperança. Ou seria aceitação? De qualquer maneira, pisei o mais fundo que pude no acelerador. Devo tê-la assustado, pois ela saiu do meu lado no último instante.
Abri com dificuldade os olhos, e demorei a perceber que estava em uma cama de hospital. Foi dito a mim que fiz uma tremenda besteira, e o resultado, apesar de ruim, poderia ter sido pior. As palavras do médico não faziam sentido, e eu não conseguia mover nada além do pescoço. Permaneci ali por dias, olhando para fora da janela, vendo o sol brilhar lá fora, sabendo que o resto de minha vida se resumiria a isto. Pedi clemência, mas me foi negada.
Subitamente, senti saudades. Saudades do que nunca conheci, acompanhadas de desejo e curiosidade. Pensei em todos os olhos que já havia visto. Fiquei remoendo minhas mágoas, até sentir sua presença. Ela entrou sem bater a porta, aparentemente, acolhendo minhas preces. Os olhos azuis, de frente para mim, próximos e familiares como nunca antes. Eu agora os desejava ardentemente. Eu implorava por eles. Ela esticou a mão em direção à minha garganta. Fechei os olhos em alívio, até ouvir pela primeira vez um som emitido por ela. Uma sádica gargalhada. Abri os olhos e a vi sorrindo, pela primeira vez. Havia retido sua mão no meio do caminho. Guardou sua foice, virou-se para a porta e, com mais um sorriso, se despediu de mim. Ela se sentiu trocada, assim como eu, e sua vingança havia sido plena.
Olho para o teto e penso. Já faz muito tempo, e ainda fará. Eu sei que um dia ela sentirá saudades e voltará, e, até lá, apodreço aqui, sozinho. Espero apenas que não se demore, pois o tempo está ficando cada vez mais lento... "
Pronto, meu primeiro conto. A lá Stephen King. Espero que tenham gostado, apesar do clima sombrio.
P.S. - O título original era Death is a Bitch!. Mas, depois de ver a relação dos personagens, não vi mais sentido nesse nome, e mudei para o atual. Irônico como eu gasto mais tempo com os títulos do que com o texto em si,haha.
P.S. 2 - O texto não reflete nada do que eu sinto no momento ( pela primeira vez em muuuuuito tempo), mas nele está o maior medo que eu tenho na vida. Além do mais, fiquei na dúvida quando reli a história. Quais olhos são mais cruéis, os azuis ou os castanhos? Me respondam se descobrirem...
Tenho que dizer que textos como os seus me encantam. *-* Quando começo a ler, começo a ficar com sede desse tipo de coisa, e não paro de ler, ao menos que não haja mais nada pra ler. Não são como os textos normais, como aqueles que só contam histórias. São textos que me fazem duvidar se o que está escrito é realmente o que está escrito, ou se é uma metáfora para algo muito mais grandioso; se é fruto se uma inspiração súbita ou de um trabalho mais árduo de contrução, reconstrução, desconstrução, construção novamente. São textos que me fazem sentur o mais particular gosto quando leio.
ResponderExcluirSério, você é que escreve muito bem! =D
E sempre que a criatividade pintar, peço que mate minha sede desse tipo de texto.
Beijo :*
(obs.: Talvez haja um pouco de egoísmo nessa coisa de querer matar minha sede de bons textos, mas espero que entenda o elogio implícito ;D)
A menos q a intençao seja somente postar(imagino q nao seja), gostaria que desenvolvesse mais...nada de resumos, cortes, medo, sei la. Otimos textos como sempre.
ResponderExcluirEngraçado...apesar do pseudonimo implicito, eu te vejo pensando e escrevendo cada palavra...vejo sua expressao de drama e de sarcasmo em varios trechos.
Muita saudade da sua chatice
Estou passando uns dias em SP e minhas poesias nao estao aqui. Quando eu voltar, te dou a honra hahahha apesar de que nao vai enriquecer muito o seu blog hahaha.
* nooooooooossssssaaaaa voce ainda lembra do aristoteles? Acho q nem tenho mais o txto. Se perdeu com a Claudete. Voce tem?
Aaaahhhh muito obrigada pela UERJ haha, procurei o seu mas tem varios victors luis hahah como voce foi?
Fala VITAO
ResponderExcluirEnfim alguem do sexo masculino nesse blog...
Vi o comentario da tia lulu. Parabens pela UERJ!
Pra ti tb Vitao! meus congratilations!
Queria ser vcs.... to tendo agora que esperar reclassificacao de UERJ e UFRJ .
Victor num ti vi essa semana.... me manda uma menssagem pelo msn... sei la... pra nos ve onde vai.
Vi que vai ter show do Vampire Weekend , dia 03/02 , o problema e que e um poquinho caro...
tb vai ter o show da tulipa que ai ja eh mais baratin.
Bem.... me mande a mgm...
AH! e o bagui do boliche ... deu em alguma coisa?
Sobre o texto... parece ser muito bonito... mas num to com tempo pra ler... deixa pra proxima.
Aquele abraco.